​

​

​

 

No verão de 2013, Luã Olsen pedalou 2115 km, saindo de Florianópolis em direção à Buenos Aires. Sua namorada o acompanhou nos primeiros quilômetros. Ao todo, foram 40 dias espalhados pelo litoral atlântico, cruzando 59 cidades junto de Hagar, a bicicleta. Visitou casas construídas de forma alternativa, ilustrando assim o Projeto Caramanhola. O relato que segue foi escrito quase como forma de terapia, em paralelo ao tratamento de um câncer, que atingiu o autor nos últimos meses.

 

204 pág.

Miolo em p&b + mapa em papel vegetal

preso por costura em brochura

(todos os livretos possuem o formato de bolso, no tamanho de 105mm x 148mm) 

 

capa:

Germana Lópes Souza

costura manual:

Coletivo Pé-de-Café

coletivopedecafe@gmail.com

(48)9660.2993
serigrafia dos detalhes em branco:

Valdeci Nunes (Nico do RIo Tavares)

pôster em xilogravura elaborado a partir de imagens do Projeto Caramanhola:

Thiago de Mello Brito

 

p. 20

Agarrou-se no meu ombro e com as pernas trançou as minhas. Rolamos como duas crianças, misturando nossos corpos. Na queda, nessa última descida, a areia entrou nos olhos e nas bocas e fomos enterrados com prancha e tudo. Depois disso, tomamos o café-da-manhã.

 

p. 59

A noite foi péssima. Uma chuva caía forte. Agradecia por já estar dentro da barraca. No meio da noite, a água começou a infiltrar meu frágil casebre armado nos fundos. Os pequenos pedaços de lona mal cortados e colados do lado de fora não foram suficientes para impedir a água. Tentava conter as poças que se formavam pelo chão, nos cantos do interior da barraca, já encharcando o saco de dormir, gelando meus pés, molhando o que tinha. Usava a roupa suja para isso.

 

p. 97

Começava a descida ao Chuí, coração acelerado, os dois passaram por mim, de carro, e tiraram uma última foto. Abanaram. Abanei de volta. Contornaram lá na frente e seguiram novamente à Rio Grande. Três caminhões em alta velocidade mandaram pressão no acostamento. Foram setecentos metros quando o guidão deu uma balançada e percebi que o pneu dianteiro havia furado.

 

p. 142

Fui novamente ao encontro de la luna, na tentativa de escapar de minha solitude. Su mitad más hermosa permanecia iluminando meu caminho. A solidão escapara mais uma vez de me atingir. Podia senti-la cruzando por mim sempre que me distraía. Estar sozinho era aceitável. Já a solidão, deveria evitá-la e assim tudo estaria bem. Andava por aquela estrada a noite, gélida. O ermo deste vilarejo em relação ao mundo.